segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Dilma em seu labirinto

"O ano apenas começou, o governo recém empossado não caminha, tropeça, e há uma cordilheira de problemas no seu caminho. A dificuldade em adotar decisões surge como uma nova característica de uma presidenta que nunca pareceu o que agora parece: confusa, sem norte. Nenhum governo resiste ao vazio de poder. Nenhum governo chega a bom porto quando não tem capacidade de decisão. Dilma parece mergulhada em um labirinto. O país parece perplexo". 
A análise é de Eric Nepomuceno  
Eis o artigo.
O segundo mandato presidencial de Dilma Rousseff completou, nesta sexta-feira 06 de fevereiro, exatos 37 dias. E não houve um só deles sem que surgisse algum tipo de problema. Há outra característica inquietante neste quadro: além de se somar a problemas já existentes, cada novo problema parece mais grave que os anteriores.
Enquanto isso, o governo mostra que não sabe como reagir. E quando reage, reage mal, ou além de mal, tarde.
A esta altura, nesses apenas 37 dias sobram razões para pensar que a equipe montada por Dilma para fazer a articulação política de seu segundo mandato merece plenamente ser estudada e analisada como exemplo olímpico do que não se deve fazer. Os resultados até agora são uma sequência de derrotas e incompetências que formam um emaranhado paralisante. Lento, atônito e sem rumo, claro, é como se o governo de Dilma tivesse encontrado um cenário cheio de armadilhas, de cabos soltos, de temas ocultos, tudo isso herdado do presidente anterior. Mas sequer essa desculpa pode ser esgrimida: ao fim e ao cabo, o presidente anterior era a própria Dilma, que agora parece perdida em um labirinto escuro.
Na quinta-feira, ela recebeu no seu gabinete no Palácio do Planalto o novo presidente da Câmara dos Deputados,Eduardo Cunha. O presidente reeleito do Senado, Renan Calheiros, participou do encontro que durou uma hora e meia e reuniu ao redor da mesa o vice-presidente Michel Temer, o chefe de Gabinete, Aloisio Mercadante, e o ministro das Relações Institucionais, Pepe Vargas. Tudo transcorreu em um clima formal, frio. Na saída, não houve declarações, mas as habituais fontes – cuja missão é filtrar algo à imprensa – disseram que o encontro serviu para estabelecer “um diálogo permanente” entre o Executivo e o Legislativo, para assegurar que haja harmonia entre os poderes.
Ou seja, palavras ao vento. Cunha impingiu, no domingo 01 de fevereiro, uma derrota humilhante a Dilma, ao seu governo e ao PT, ao eleger-se para um posto a partir do qual poderá criar oceanos de dificuldades para depois cobrar o preço que quiser para vender facilidades. E suas primeiras ações foram exemplares do que poderá – ou não – vir de agora em diante. Para começar, deu sinal verde para que fosse aprovado o pedido apresentado pela oposição, criando uma nova Comissão Parlamentar de Investigação sobre os escândalos de corrupção na Petrobras. No Brasil, a CPI têm tanto poder como um Tribunal de Justiça, com a vantagem de agir de maneira muito mais ágil e veloz.
No mandato anterior houve uma comissão dessas, mas o governo de Dilma conseguiu neutralizá-la. Agora, ninguém sabe o que poderá acontecer. O presidente da Câmara, apesar de pertencer a um partido aliado, é um claro adversário do governo. Além disso, as denúncias se intensificaram de maneira fantástica e cada dia as investigações avançam mais, aproximando-se perigosamente da cúpula do PT. Há outros partidos envolvidos, inclusive o PSDB da oposição. Mas tudo o que a Justiça e a Polícia Federal vazam à imprensa tem como foco central o partido de Lula e Dilma.
Se o avanço das investigações e o gotejamento diário de novas revelações (por enquanto ninguém pôde provar nada, mas fica evidente que houve um esquema de corrupção amplo e que funcionou ao longo de ao menos 10 anos) preocupam cada vez mais o PT e o governo, uma CPI terá, sob muitos aspectos, a capacidade de ser uma usina geradora de problemas.
É muito difícil saber se todo esse quadro poderia ter sido evitado se Dilma fosse uma negociadora hábil e se não houvesse escolhido uma equipe articuladora tão incompetente. Mas, o quadro está claro: além de uma Câmara presidida por um deputado rebelde e capaz de qualquer coisa para depois brandir seus talentos de chantagista, o país enfrenta um quadro econômico de alta complexidade que, pelo que será a nova política econômica de Dilma, seguramente criará sérios tropeços, que irão da recessão à incerteza sobre programas sociais e conquistas alcançadas (o Brasil tem hoje a mais baixa taxa de desemprego dos últimos 80 anos). Ao mesmo tempo, a maior empresa brasileira, a Petrobras, é bombardeada incessantemente por denúncias, chegando à insólita situação de ficar acéfala: a presidenta e quatro dos seis diretores renunciaram, contrariando o que havia sido acordado com a Dilma.
Enquanto isso, o que se vê é um governo catatônico, um vazio de poder desconcertante, uma presidenta absolutamente decidida a não ceder (resultado: como é inevitável, cede à realidade). Uma presidenta que leva um tempo enorme para tomar decisões, enquanto as circunstâncias a vão afogando.
O ano apenas começou, o governo recém empossado não caminha, tropeça, e há uma cordilheira de problemas no seu caminho. A dificuldade em adotar decisões surge como uma nova característica de uma presidenta que nunca pareceu o que agora parece: confusa, sem norte. Nenhum governo resiste ao vazio de poder. Nenhum governo chega a bom porto quando não tem capacidade de decisão.

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