segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Luto



Manuela Berbert | manuberbert@yahoo.com.br
Hoje meu coração está enlutado. Numa coletiva à imprensa, pela manhã, o Provedor anunciou, oficialmente, a descontinuidade dos serviços SUS do Hospital São Lucas e o fechamento de sua porta de entrada no dia 31 de dezembro.
Pimenta Blog - Não costumo usar as minhas redes sociais para compartilhar nada além dos meus trabalhos pessoais, mas hoje eu preciso me pronunciar em algum lugar. Há quase quatro anos coordeno o setor de marketing da Santa Casa de Misericórdia de Itabuna, tendo o privilégio de acompanhar de perto o crescimento de diversos setores e serviços dos Hospitais Calixto Midlej Filho, Manoel Novaes e São Lucas. Estive à frente de pautas e publicidade sobre todo o tipo de evolução que vocês possam imaginar, desde cursos de capacitação para funcionários a inaugurações, como da UTI Neonatal e da CTI Coronariana, vendo as unidades serem pintadas, equipadas, e em seguida o seu amplo funcionamento.
Apaguei incêndios junto à imprensa regional também, esclarecendo fatos e tentando inclusive ajudar a resolver o que aparentemente não tinha solução. A média mensal de atendimento dos três hospitais é de 63 mil procedimentos/mês, e achar que tudo conseguiria acontecer de forma ágil e perfeita seria até ingenuidade da minha parte. O tempo me fez entender a diferença entre urgência, emergência e “chilique”, e eu consegui resgatar minhas horinhas de sono que chegaram a faltar no início, já que meu telefone passou a tocar às 22h, às 23h, às 2h da madrugada etc.
A Santa Casa, que caminha para os 100 anos de existência, tem sua história entrelaçada na história de Itabuna, e na de todos nós. O meu respeito pela instituição é imenso, afinal nasci no Hospital Manoel Novaes, vi o meu pai se despedir da vida, nos meus braços, no Hospital Calixto Midlej, renasci no Calixto alguns anos depois, e assim sucessivamente. E sei que tudo isso também acontece na família de todos ao meu redor.
Trabalho diariamente com o diretor e o provedor em exercício. Nesse período, estou na gestão do terceiro provedor que já sentou naquela cadeira. Conheço suas lutas, que vão desde inúmeras viagens a Brasília em busca de recursos para o SUS, a emendas astronômicas divulgadas por deputados regionais que, na verdade, nunca chegaram. Um hospital ia sustentando o outro, um serviço sustentando o outro, até que muita coisa, claro, tornou-se insustentável.
Hoje meu coração está enlutado. Numa coletiva à imprensa, pela manhã, o Provedor anunciou, oficialmente, a descontinuidade dos serviços SUS do Hospital São Lucas e o fechamento de sua porta de entrada no dia 31 de dezembro. Em resumo, o que o governo tem para pagar não o sustenta. Simples assim. Entendido por todos, compreensível para ninguém. Milhões para se fazer um político, quase nada para se fazer política séria. Milhões para estádios de futebol e uma copa do mundo, quase nada para hospitais públicos. E na soma final, lamentavelmente, é o pobre quem paga as contas nesse país, com a própria vida!
Manuela Berbert é jornalista e publicitária.

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