segunda-feira, 18 de agosto de 2014

''A ofensiva israelense contra os palestinos é como uma bomba atômica''

O Pe. Manawel Musallam relata as condições em que vive a população na Faixa de Gaza, depois de quatro semanas de bombardeios. Crianças e adolescentes feridos "no corpo e no espírito", incapazes de "sentir alegria, falar de paz e oferecê-la aos outros". Com as suas ações, Israel "não está só destruindo a humanidade das pessoas de Gaza, mas também a do seu povo".
"O que a população de Gaza sofreu nessas semanas é comparável ao lançamento de uma bomba atômica. As explosões em massa contra essa terra transformaram mais de meio milhão de pessoas em refugiados, mais uma vez. Elas não têm mais casa nem um lugar para onde ir. As suas vidas foram varridas do mapa."
A afirmação é do Pe. Manawel Musallam, pároco da Sagrada Família em Gaza e diretor de uma escola na Faixa de Gaza. Nessa semana, Israel e Hamas iniciaram uma nova trégua de cinco dias, já "manchada" na noite do dia 14, por um ataque aéreo por parte de Tel Aviv, em resposta aos foguetes do Hamas. Um cessar-fogo mais uma vez suspenso por um fio, em que o sacerdote não deposita grande esperança.
Observando os sofrimento suportados pelas pessoas de Gaza, o Pe. Musallam fala sobretudo das crianças e dos jovens. "Por 14 anos – conta – eu dirigi uma escola no bairro de Shejaiya. A maioria dos nossos alunos moravam justamente ali. Nas últimas semanas, Shejaiya foi destruído: muitos jovens foram mortos, outros feridos. Alguns ficaram órfãos e foram levados embora; outros viram seus próprios irmãos morrerem. Agora eu pergunto: se algum dia voltarem para a escola, em que condições estarão esses jovens? Conseguirão estudar, cantar, ler, dançar, escrever?"
A dor dos jovens palestinos, destaca o sacerdote, "é uma ferida física, mental e espiritual. Desde 2007, eles viveram quatro guerras em apenas sete anos. Reagir positivamente a uma realidade desse tipo é impossível. Eles são capazes de sentir alegria nos seus corações? Podem falar de paz e oferecê-la aos outros? Estão preparados para amar, ter compaixão e aceitar Israel? Como podemos convencer esses jovens a não odiar os israelenses, a lhes explicar sobre a possibilidade de conviver com Israel, se este continua a atingi-los?".
Na Faixa de Gaza, habitam dois milhões de pessoas: metade da população de toda a Palestina. Viver há anos "como refugiados", sem a possibilidade de levar uma vida normal, com a ameaça constante de um novo conflito, criou "uma dificuldade espiritual e mental".
Os palestinos, explica o Pe Mulallam, "estão rejeitando a existência de Israel sobre as suas costas. Eles se perguntam em nome de qual qualidade ou virtude humana poderiam aceitar a presença desse Estado.
Na Bíblia, o profeta Oseias diz: "Semeiem conforme a justiça e colham o fruto do amor". Mas Israel não está semeando justiça, de tão manchada como está com o sangue de mulheres e crianças, sem respeito pelo direito à vida dessas pessoas, destruindo todas as coisas de modo indiscriminado".
Com as suas ações, observa o pároco, "Israel não se dá conta de que não está só destruindo a humanidade das pessoas de Gaza, mas também a do seu povo. O que todos os soldados que estão combatendo vão dizer aos seus filhos, às suas esposas e aos seus pais quando voltarem para casa? Que mataram outras crianças, e mães, e pais? Que destruíram casas e jogaram famílias inteiras na miséria mais total? Como poderão falar de paz para suas famílias? Vão tomar consciência do que fizeram? Porque não poderão falar de paz. Porque a paz não pode ser construída ou aceita na miséria, na humilhação do outro, no terror, no medo, na destruição. A paz só pode ser construída sobre a paz. A paz pode dar segurança, não o contrário. A guerra não pode criar a paz".
À luz disso, para o Pe. Musallam, é difícil confiar no bom êxito da trégua em andamento. Também por culpa da atitude da comunidade internacional. "Podemos ser gratos – diz – pelas manifestações em sinal de solidariedade para com a nossa condição, mas não podemos perdoar o silêncio. Gaza não pode ficar bloqueada para sempre, e o seu povo não pode ser deixado nessas condições para sempre: esgotada pela fome, pela raiva, o medo."

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