sexta-feira, 13 de junho de 2014

Abertura da Copa é marcada por protestos em todo o país



São paulo: Mesmo imobilizado policial dispara spray de pimenta no olho de manifestante que enfrentou a PM e peitou até os escudos da barreira policial é detido próximo ao Itaquerão
Como era previsto, o dia da abertura da Copa do Mundo no Brasil foi marcado por protestos e manifestações em cidades-sede dos jogos. Confrontos entre manifestantes e policiais em São Paulo deixaram um saldo de dois presos e 11 feridos sem gravidade, entre eles, duas correspondentes da rede de TV norte-americana CNN, um fotógrafo da Associated Press e um jornalista do SBT. Em Porto Alegre e em Belo Horizonte também houve tumulto, com a PM usando bombas de gás lacrimogêneo. No entanto, bastou a bola rolar na Arena Corinthians para os grupos começarem a se dispersar. Nem de longe as marchas de ontem conseguiram reunir as milhares de pessoas que, durante a Copa das Confederações, tomaram as ruas de todo o país, em junho do ano passado, reivindicando saúde, educação, segurança e fim da corrupção. Na maioria das cidades, desta vez, a presença das bandeiras partidárias e de movimentos sociais foi marcante.
Fora de Belo Horizonte, o protesto mais radical foi registrado em Porto Alegre, onde cerca de 600 pessoas, algumas mascaradas, portando paus e pedras, amassaram com chutes grades de estabelecimentos comerciais, quebraram vidraças de uma agência bancária e de uma da telefônica, arrancaram painéis de duas bancas de revistas, derrubaram placas de sinalização do trânsito e viraram todos os contêineres de lixo que encontraram pelo caminho, ateando fogo a um deles.
A marcha foi convocada pelo Bloco de Luta pelo Transporte Público, que percorreu ruas centrais da capital gaúcha protestando contra a Copa do Mundo, no início da tarde. Não houve confronto com a polícia e o único incidente foi diante de uma barreira policial, quando um pequeno grupo tentou forçar a passagem e atirou pedras nos policiais, que usaram bombas de efeito moral para controlar a situação. O ato recebeu críticas de moradores, comerciantes e pedestres do Centro de Porto Alegre. Os manifestantes xingaram uma moradora que apareceu na sacada de um prédio com a camisa da Seleção Brasileira. Participaram do ato militantes de partidos como o PSTU e PSOL e de centrais sindicais e integrantes de organizações do movimento estudantil. 
Em São Paulo, onde foi dado o pontapé inicial do Mundial, pelo menos quatro grupos tumultuaram a abertura da Copa. Os manifestantes do “Grande Ato 12 de junho, não vai ter Copa” saíram para a rua cedo, cerca de seis horas antes da partida entre Brasil e Croácia, mas foram reprimidos pela Polícia quando tentaram bloquear uma importante via. Cerca de 150 homens da Tropa de Choque da Polícia Militarizada do estado dispersaram com gás lacrimogêneo e bombas de efeito moral um grupo de 200 manifestantes que tentava bloquear a avenida Radial Leste, a principal via de acesso à Arena Corinthians, na qual as jornalistas ficaram feridas. A Polícia deteve um dos participantes do protesto que tentou frear o avanço dos policiais que, em fila, andavam com escudos rumo aos manifestantes, que se concentraram inicialmente em frente à estação Carrão do metrô, na Zona Leste, para onde foram convocados por meio das redes sociais. 

HUMOR No Rio, em clima alegre, mas também gritando palavras de ordem contra os governantes, cerca de 400 manifestantes fizeram passeata pela Avenida Rio Branco, entre a Candelária e a Cinelândia, e chegaram aos Arcos da Lapa. Durante o protesto, houve atritos entre PMs e ativistas, que terminaram com a prisão de seis pessoas para averiguação. Ainda no início da tarde, o grupo começou a se dispersar. Muitos ativistas caminharam em direção a Copacabana, onde ocorria a Fan Fest da Fifa, totalmente protegida por forças de segurança.

Os aeroviários, que entraram em greve na madrugada de ontem, fecharam o acesso ao Aeroporto Internacional Tom Jobim, o Galeão. O grupo interditou por duas horas parte da Avenida 20 de Janeiro, na Ilha do Governador, com apoio de manifestantes do Movimento Nacional de Luta, provocando engarrafamento na região. Em razão da baixa adesão à greve, o funcionamento dos serviços nos aeroportos da capital fluminense não foram afetados. A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) entrou com recurso na Justiça para suspensão do movimento, que foi considerado ilegal pela Justiça. A paralisação foi suspensa no início da tarde. 
Em Brasília, uma manifestação pacífica reuniu cerca de 100 pessoas na Praça do Relógio, em Taguatinga, cidade satélite do Distrito Federal. Liderados pelo movimento Juntos e Comitê Popular da Copa do DF, os manifestantes agendaram uma série de atos enquanto durar o Mundial no país. A polícia apenas monitorou de dentro dos carros a movimentação do público.
Os protestos também romperam as fronteiras do território brasileiro e chegou ao Velho Mundo. Em Paris, uma manifestação reuniu cerca de 300 pessoas contrárias à Copa verde-amarela, muito mais gente do que os registrados no Brasil.

O Brasil nas ruas



Repercussão pelo mundo

Antes da abertura da Copa do Mundo e da vitória brasileira sobre a Croácia, a imprensa internacional deixou de lado as expectativas em relação à maior competição de futebol do mundo e destacou as manifestações que ocorriam em São Paulo e no Rio de Janeiro. A jornalista da CNN ferida durante a cobertura do Mundial foi citada com destaque por vários veículos estrangeiros, que falaram em violações de direitos humanos e criticaram a atuação da Polícia Militar. “Enquanto a Copa do Mundo começa, a democracia duramente conquistada do Brasil está sob ameaça”, era o título da matéria do jornal britânico The Guardian sobre os protestos. Os também britânicos The Times e The Telegraph e o francês Le Monde destacaram o uso de gás lacrimogêneo pela polícia para dispersar manifestantes do movimento “Não vai ter Copa”.
“Protestos ofuscam estreia da Copa do Mundo no Brasil”, manchetou pela manhã o jornal espanhol El País, enquanto o norte-americano The New York Times publicava que centenas de brasileiros protestam contra a abertura do Mundial. O argentino Clarín tratou as manifestações em São Paulo como incidentes e informou o número de feridos, reproduzindo uma imagem do momento em que um ativista foi imobilizado pela polícia. O Corriere della Sera, italiano, destacou a mistura de protesto e festa na abertura da competição. 

O Brasil nas ruas Repórter se preparou para confrontos

A repórter da CNN Shasta Darlington, de 44 anos, afirmou ontem que estava preparada para possíveis protestos contra a Copa do Mundo no Brasil. Mesmo assim, ela foi surpreendida por uma bomba lançada por policiais contra black blocs durante um ato na Zona Leste de São Paulo, e acabou ferida por um estilhaço. “Eu estava com capacete e máscara, mas tirei para fazer o ao vivo. Foi uma das primeiras bombas, por isso mesmo a gente não esperava”, afirmou Shasta, que estava com a produtora da emissora Barbara Arvanitidis, também ferida por estilhaços. As duas foram encaminhadas ao Hospital da Vila Alpina e foram liberadas logo após o atendimento.
Shasta é corresponde da CNN no Brasil há três anos e afirmou que não vê muita diferença entre as manifestações ocorridas recentemente no país e protestos que ela já presenciou no exterior. Ela avaliou que a atuação da Polícia Militar paulista tem sido diferente em cada protesto. “Acho que eles (policiais) têm reagido de forma diferente em protestos diferentes. Em algumas manifestações são bem mais organizados. Parece que aqui eles realmente não vão deixar ninguém ficar perto da Radial Leste (a principal via de acesso à Arena Corinthians). Dá a impressão que estão preparados para fazer o que têm que fazer”, afirmou.
As duas jornalistas da CNN não são as únicas profissionais da imprensa que ficaram feridas durante o protesto de ontem. O fotógrafo Rodrigo Abd, 37, da Associated Press, foi ferido por estilhaços de bomba na coxa e na canela. Ainda no local, ele reclamou que não teve ajuda após ter sido ferido, mesmo tendo pedido a moradores da região. Um jornalista do SBT foi atingido de raspão na região do olho.

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