quinta-feira, 29 de maio de 2014

Nos caminhos do poder: repressão e medo

"Nada mais simbólico do que ocupar, com rituais, danças, flechas , maracás e bordunas, a praça dos Três Poderes. Ecoou forte o grito de “estamos vivos! E estamos aqui!. Na praça já estavam manifestantes dos atingidos por barragens – MAB", escreve Egon Heck, do secretariado nacional do Cimi, ao enviar o artigo que publicamos a seguir. As imagens são de Egon Heck.
Eis o artigo.
Brasília amanheceu em tom acinzentado. Para os quase 600 representantes indígenas de todo país reunidos no décimo acampamento Terra Livre era um dia de intensa mobilização e manifestações na capital federal.
Parece que procuraram testar o esquema de segurança e repressão com os povos indígenas. O local do acampamento foi permanentemente vigiado e tentaram intimidar as lideranças parando os ônibus na BR 040, rumo aos três poderes.
Nada mais simbólico do que ocupar, com rituais, danças, flechas , maracás e bordunas, a praça dos três poderes. Ecoou forte o grito de “estamos vivos! E estamos aqui!. Na praça já estavam manifestantes dos atingidos por barragens – MAB.
A parte da manhã desse memorável dia 27 de maio terminou com os indígenas protocolando uma queixa crime contra os parlamentares Luiz Carlos Heinze e Alceu Moreira por declarações racistas e criminoso incitamento à violência contra os índios. A bancada ruralista está aproveitando a Comissão Especial da PEC 215 como palanque anti-indígena e ataques aos direitos constitucionais desses povos.
Sob um Sol escaldante, com o refrigério de algumas nuvens densas, os indígenas deram sequencia às manifestações dirigindo-se em passeata até à frente do palácio do planalto. Forte esquema de segurança já estava armado. Os índios deram seu recado em frente à rampa do palácio e seguiram em direção do Congresso.
De repente irromperam para a plataforma que envolve os plenários da Câmara dos deputados e do Senado. Ali fizeram rituais e danças, à semelhança de 1988 quando da conquista dos direitos indígenas na Carta Magna. Com a diferença que esta vez a manifestação era para evitar a retirada dos direitos conquistados. Esse “espaço público especial, foi fechado ao povo. Porém assim como visitaram o plenário por dentro, em abril do ano passado, desta vez o visitaram, pelo lado de fora. Os povos primeiros visitam os lugares proibidos!
A manifestação seguiu, acompanhado de veementes falas das lideranças, até o Ministério da in-justiça. De maneira incisiva e dura, cobraram do ministro Cardozo a retomada das demarcações das terras indígenas e garantia dos direitos desses povos. Foi também o momento de um bom grupo se refrescar nas cachoeiras do ministério.
Nos caminhos da Copa, a repressão
O dia já avançava para seu final, com um agradável clima para os manifestantes que se dirigiram para o Estádio Internacional Mané Garrincha. Como brasileiros tinham o direito de ver a taça ali exposta. Porém, no caminho, já próximo ao estádio a marcha foi brutalmente interrompida com cavalaria, gás lacrimogêneo e de efeito moral, balas de borracha e spray de pimenta. Seis índios foram feridos com balas de borracha. A caminhada havia sido convocada pelo Comitê Popular da Copa – DF, numa caminhada pacífica até o Estádio mais caro do país, que mostra o encastelamento do poder da FIFA.
A articulação dos Povos Indígenas do Brasil, distribuiu nota de repúdio contra mais essa violência contra os povos indígenas. Repetiu-se a repressão cometida em Coroa Vermelha no ano 2000..

Nenhum comentário:

Postar um comentário