segunda-feira, 26 de maio de 2014

Em São Paulo obra do Itaquerão gerou aumento de abuso infantil em Itaquera, conclui CPI



O bairro de Itaquera, na zona leste da capital paulista, onde está instalado o recém-construído estádio do Corinthians – palco da cerimônia de abertura da Copa do Mundo - registrou aumento de casos de abusos sexuais contra crianças e adolescentes no período de construção da arena.
A conclusão é da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) que foi instalada no ano passado na Câmara dos Vereadores de São Paulo. O relatório final do trabalho dos parlamentares traz depoimentos de meninas moradoras de uma favela do bairro que tratam abertamente dos abusos ocorridos. 
Depoimentos de um grupo de meninas, prestados no início do mês de abril a um comitê de defesa dos direitos da criança atestam que o canteiro de obras do estádio fez intensificar a exploração na região.
"A gente colheu depoimentos de meninas que foram vitimizadas durante o período [de construção do estádio, iniciado em 2011]. É fato que existe e existiu a exploração sexual naquele momento e nas imediações do Itaquerão", destaca a vereadora Patrícia Bezerra (PSDB), relatora da CPI que apurou a exploração infantil no município.
Em um dos depoimentos, a menina B., de 13 anos, conta que foi assediada e abusada sexualmente por um dos trabalhadores do canteiro de obras do Itaquerão e que engravidou.
"Um rapaz sempre dava em cima de mim na rua quando eu passava. Isso começou a me incomodar por ele ser bem mais velho. Meu pai sabia que ele dava em cima de mim e não fazia nada. Ele foi tentando se aproximar várias vezes. Até que um dia saí com ele e fui abusada. Engravidei. Depois de um tempo ele disse que me assumiria. Meu pai não se importou muito. Até parece que para ele isso foi bom, porque era uma boca a menos para alimentar. Pode ter sido bom para ele, não para mim", disse a menina, moradora de uma comunidade próxima ao Itaquerão.
A Prefeitura de São Paulo reconhece a região do estádio como um dos pontos vulneráveis a esse tipo de crime e acionou uma rede de proteção, que inclui assistência social, conselhos tutelares e escolas, para que a prática de abuso sexual infantil não seja repetida durante a Copa do Mundo, que começa no próximo dia 12, exatamente no Itaquerão.
A medida integra a Agenda de Convergência, estratégia do governo federal, por meio da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, no enfrentamento à violação dos direitos da criança e do adolescente durante grandes eventos.
"Essa ação mobiliza os atores sociais das redes locais e foi implantada na capital paulista. Não só lá na região de Itaquera, mas em outros pontos de concentração onde as pessoas vão assistir aos jogos", informou Fábio Silvestre, coordenador de políticas para crianças e adolescentes da Secretaria Municipal de Direitos Humanos.
De acordo com Silvestre, a prefeitura reforçou também a campanha de divulgação do Disque Direitos Humanos - Disque 100, que recebe esse tipo de denúncia.
Avisos em aeroportos
A Secretaria Nacional de Direitos Humanos (SDH) irá pregar nos principais portos, aeroportos e terminais rodoviários das 12 cidades-sede da Copa do Mundo do Brasil cartazes em inglês e espanhol convidando os turistas estrangeiros a denunciar casos de abuso ou exploração sexual infantil de que tenham conhecimento durante sua estada no país.
Além dos cartazes, serão distribuídos adesivos e folders aos turistas nos principais pontos de aglomeração de pessoas durante o Mundial de futebol, como entorno dos estádios, locais onde serão realizados eventos relacionados à Copa e centros hoteleiros.
A ação faz parte da campanha "Entre em Campo pelo Direito das Crianças", executada pela SDH em parceria com conselhos municipais dos direitos da criança e do adolescente e entidades da sociedade civil. Quem banca o projeto é a Fundação Itaú Social. 
De acordo com a secretária Nacional de Direitos Humanos, Angelica Goulart, além da divulgação e distribuição dos cartazes e adesivos, a ação inclui a criação, em cada cidade-sede da Copa, de espaços temporários de abrigo para crianças em situação de vulnerabilidade ou que tenham sofrido qualquer tipo de violência.

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