segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Proposta pedagógica Waldorf: sem livros entre o lúdico e a metodologia


O VII Encontro Brincando e Aprendendo na Educação Infantil, ação do projeto de extensão, do Departamento de Ciências da Educação da Universidade Estadual de Santa Cruz- UESC, prossegue até quarta-feira(18), com atividades que vão das 8 às 18 horas. A abertura, no Centro de Arte e Cultura Gov. Paulo Souto, no Campus da UESC, conta com a conferencia "O desenvolvimento da criança até os sete anos - A experiência do Jardim de Infância Waldorf", seguido do relato de experiências "O jardim de infância na Pedagogia Waldorf, com a participação de pai, mãe e professor.
Pedagógica Waldorf
Para quem busca uma educação com uma visão mais integrada do desenvolvimento humano e norteia sua prática a partir dessa visão, a pedagogia Waldorf apresenta-se como uma alternativa. "É holística mais completa, aborda o ser humano em todos seus sentidos. Não se restringe apenas ao ensino intelectual, está presente no ensino infantil, fundamental e médio. No mundo inteiro existem escolas Waldorf," explica a professora Silvia Reichmann, diretora da escola Dendê da Serra, instalada numa clareira da Mata Atlântica, no distrito de Serra Grande, no município de Uruçuca, no sul da Bahia.
Segundo a professora Sílvia "a pedagogia Waldorf tem um método de ensino bem diferente do tradicional. É um professor de classe que leva a turma da primeira até a oitava série acompanhando essa turma durante oito anos, dando as matérias principais que são aplicadas em períodos específicos chamados de épocas. São quatro semanas de português depois uma outra época de quatro semanas de história, seguida de matemática e assim por diante. Isso durante duas horas diárias dedicada ao tema estudado na ocasião. Assim, a gente consegue se aprofundar muito mais, fazer um ensino bem mais vivo usando elementos diversificados. Não se trata de um ensino simplesmente frontal e verbal mas que usa elementos artísticos e lúdicos. Trabalhamos com movimentos, com musica. tudo ligado ao tema central que está sendo estudado na época."
Em todas as escolas Waldorf os alunos têm muitas aulas de pintura, trabalhos em madeira e manuais, costura, tricô, jardinagem, horta, composto orgânico, línguas estrangeiras, desde a primeira serie. Como o método não trabalha com livros didáticos, as crianças vivenciam as coisas primeiro, para depois chegar a conclusões e definições. Nunca um professor Waldorf começa um tema pelo conceito ou pelo abstrato, os alunos registram em seu caderno de época, sem pauta, tudo que vivenciam e é trabalhado com o professor, ilustram esse caderno, escrevem com cores, com molduras, criam com liberdade. "O caderno não tem pauta porque as crianças começam a trabalhar a mão livre para ter a coordenação motora desenvolvida, dividindo espaço, trabalhando com formas, proporções e cores. O professor não trabalha com nada pronto, criamos nossa aula, nossa época e o aluno cria o seu livro em seu caderno como resultado da época." justifica a diretora.
A grande distinção entre a pedagogia Waldorf e as pedagogias mais tradicionais é a estruturação curricular a partir de um estudo do desenvolvimento humano em três esferas: corpo, alma e espírito. Estamos em perfeita consonância com legislação brasileira que é moderna e bem elaborada. Os conteúdos que ensinamos são os mesmos que as outras escolas aplicam, o que muda é a maneira de ensinar. 
Dendê da Serra
Na escola Dendê da Serra, situada na reserva do Conduru, as crianças disputam espaço com o verde exuberante e as cores extravagantes da Mata Atlântica. É a natureza plena ensinando adultos a se reformatarem e possibilitando que as crianças floresçam portadoras da humanidade necessária em que tudo pode virar brincadeira, se transformar em fonte de pesquisa ou de uma nova conquista no desenvolvimento de um ser humano, que alí é entendido como um microcosmo no qual vibram e pulsam os processos do universo. 
Cada sala, especialmente infantil, é composta de copa, cozinha, banheiro e espaço para a criança dormir e brincar. Toda escola precisa ser um espaço bonito e aconchegante com cores nas paredes agradáveis ao olhar, com muitos elementos estéticos. Mas os professores dão o toque final.
Com relação a merenda, ela é cozida na escola e é oferecida igual para todos, até para não haver diferenças e para que os alunos tenham uma educação alimentar. 
Em nossa escola o espaço do infantil tem linhas arquitetônicas que se assemelham a uma borboleta. Não foi proposital, só percebemos depois. A idéia é que a sala não seja retangular com um monte de cantos em angulo reto. Esse foi um conceito que passamos para o arquiteto, porque faz parte da nossa pedagogia. Para que as crianças pequenas possam estar vivendo num ambiente que tenham bastante formas orgânicas acolhedoras, tivemos um arquiteto com uma idéia muito feliz . Criou duas alas laterais que acabaram se assemelhando a uma borboleta.
Formação do professor
A professora Silvia Reichmann frisa que "esse trabalho exige muito do professor. Realmente, além de ele dominar bem os conteúdos, precisa saber cantar, tocar flauta, costurar, dançar, fazer teatro, desenhar no quadro, fazer física, matemática, português, história e geografia. Na verdade, que tenha uma boa bagagem cultural, uma formação razoável e se preocupe em estar buscando novas informações e agregando conhecimentos, tem condição de ser um professor Waldorf. Isso se ele estiver disposto em estar sempre em formação continuada. Exigimos que ele tenha formação universitária, não precisa ser diretamente na pedagogia, mas que traga consigo uma base de conhecimentos gerais adequada."
Visita às famílias
"O professor de classe Waldorf tem entre as suas tarefas fazer visitas às casas das crianças. Todo professor tem a obrigação de conhecer a família do seu aluno. Saber onde mora, como vive, quem são os seus pais, os seus irmãos, os seus amigos, onde dorme, se tem um cachorrinho e construir uma ponte positiva com a família e o aluno para que a criança se sinta mais próxima do professor, mais acolhida e para possamos entender melhor a sua realidade e as possíveis dificuldades que ele possa ter. Às vezes, nos irritamos com um caderno mal cuidado e descobrimos que a casa do aluno não tem mesa, não tem cadeira, tem o irmãzinho que pega, o cachorro que rasga. As coisas não são simples porque, não tem nenhum cantinho onde ele possa guardar as suas coisas das outras pessoas." explica Silvia Reichmann.
Manutenção
A escola não tem uma finalidade lucrativa e a manutenção financeira é difícil, explica a professora Reichmann. "Temos muitos alunos bolsistas que não contribuem financeiramente com a escola e é a nossa política acolher prioritariamente essas crianças de baixa renda. Isso faz com que tenhamos necessidade grande de captar recursos para manter essas crianças. Temos doadores-padrinhos, pessoas que querem apoiar a educação de uma criança. Participamos de editais e projetos, parcerias com outras ONGS, amigos, pessoas físicas no Brasil e no exterior que se comprometem a apoiar o nosso trabalho. Temos alguns pais que pagam a mensalidade integral ou parcial, mas a maioria não tem condições.

Nenhum comentário:

Postar um comentário