segunda-feira, 24 de setembro de 2012

A verdadeira sabedoria

Dom Mauro Montagnoli - Bispo diocesano de Ilhéus - No Livro da Sabedoria encontramos uma palavra de ânimo, muito oportuna para nossos dias: todo justo será recompensado e sua vida experimentará a plena e definitiva vida que Deus reserva para aqueles que escutam suas palavras, aceitam seus desafios, trilham seus caminhos e se comprometem com a construção de um mundo mais fraterno, lutando pela justiça e pela paz. 
Os "ímpios" são os que, além de não aderirem aos valores de Deus, ainda zombam dos costumes e dos valores religiosos, por considerarem essas práticas religiosas inadequadas para os dias de hoje, ou seja, não compatíveis com a modernidade (cf. Sb 2,17-20). Os justos, com sua prática de vida, acabam por ser uma espécie de empecilho aos ímpios que se sentem continuamente questionados. Estes reagem, atacando os justos e colocam Deus a prova para ver até onde ele permite o sofrimento dos que o temem. 
Quem opta viver segundo a "palavra de Deus" não terá facilidades, nem viverá em um romantismo mágico pelo qual tudo acabará em alegrias e grandes realizações. Estará, porém, sujeito a críticas, a perseguições, a incompreensões e até ao próprio fracasso. Entretanto não serão as situações contrárias que farão com que desanimemos na prática da justiça. 
Somos alertados hoje para não perdermos os valores cristãos autênticos e colocarmos em prática a palavra de Deus, que se encontra, de maneira privilegiada, em Jesus Cristo, fazendo de nossas vidas um dom de amor aos irmãos, traduzido em gestos concretos de partilha, serviço, solidariedade e fraternidade. 
Jesus teve dificuldade de fazer com que entendessem isso. Ainda hoje podemos ter essa mesma dificuldade. Não temos tempo para saborear e entender a palavra de Deus, pois nossas preocupações podem estar sobre outras realidades. Será que não ficamos falando tantas coisas que não são tão importantes ou fundamentais? Por isso, a dinâmica de Jesus é muito importante: sentou-se, chamou mais para perto de si, tomou a criança como exemplo (cf. Mc 9,36-37). Sempre vai educando os discípulos sobre que tipo de messias é e como quer que sejam os que se dispõem a segui-lo. O evangelho é um contínuo ensinamento, mas a cegueira dos discípulos persiste. Quem quiser segui-lo deve estar disposto a servir.
Assim como no tempo de Jesus, o interesse de saber quem é o maior toma conta de muitas rodas de conversas e orienta as ações de muitas pessoas hoje, determinando as prioridades e os investimentos. Neste dia, cabe uma pergunta: em que estamos investindo nosso tempo, nossas energias, nosso dinheiro, enfim, nossa própria vida? Em realidades passageiras que, aparentemente, podem ser importantes, pois vivemos em uma sociedade capitalista e imediatista, ou em ações que conscientemente constroem pessoas, famílias e um mundo que proporcione o prazer de uma vida integral? Jesus nos convida a abandonarmos nossos sonhos egoístas e orientarmos nosso agir para a essência de sua proposta. 
Na celebração eucarística, cada dia Jesus levanta-se da mesa, cinge a cintura com uma toalha, lava os pés de seus discípulos (cf. Jo 13,1-5) e nos transforma em testemunhas da esperança e fonte de unidade e de salvação para muitos. 
O interesse autêntico e sincero pelos problemas da sociedade, que nasce da solidariedade para com as pessoas, é sinal privilegiado do seguimento daquele que veio para servir e não para ser servido. Uma comunidade insensível às necessidades dos irmãos e à luta para vencer a injustiça é um contra testemunho, e celebra indignamente a própria liturgia. 





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