quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Sem proposta, governo provoca ira de servidor

CORREIO BRAZILIENSE - Frustração e tumulto. Esse foi o saldo do primeiro dia da nova rodada de negociações entre o governo e os sindicatos de servidores, que estão em greve por reajustes de salários e reestruturação de carreiras. Apesar de prometer apresentar novas propostas ao funcionalismo, depois de duas semanas de interrupção nas conversas, o Ministério do Planejamento se limitou a ouvir os mesmos pleitos. Segundo o secretário de Relações do Trabalho, Sérgio Mendonça, como a projeto do Orçamento de 2013 ainda não foi fechado, não há nada a ser apresentado aos grevistas. Na melhor das hipóteses, nas próximas sexta ou segunda-feira, o Palácio do Planalto pode colocar alguma coisa na mesa. Mas que ninguém se anime muito. "Temos até 31 de agosto para elaborar as propostas, ainda estamos dentro do prazo", afirmou o secretário.
A posição do governo anunciada por Mendonça provocou a ira dos servidores. Em especial a dos funcionários do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA). Depois de duas horas de reunião, na qual ouviram "não" para todas as suas reivindicações, invadiram a sala de reuniões do 7° andar do Planejamento. Gritando palavras de ordem, ameaçaram não arredar o pé. Por alguns minutos, mantiveram o secretário sequestrado lá dentro.
Porta fechada
Seguranças tentaram abrir a porta, sem sucesso. O secretário-geral do Sindsep-DF, Oton Pereira Neves, disse que ninguém sairia do local, enquanto os 30 servidores que participaram da reunião não recebessem uma proposta do governo. "Foram 151 reuniões com o Planejamento desde janeiro, para nada", afirmou. A tensão cresceu porque, no térreo do ministério, mais de 200 grevistas fizeram uma barreira, impedindo a entrada e a saída das pessoas. Rapidamente, o prédio foi cercado por policiais militares, para impedir que o confronto tomasse maiores proporções.
Segundo Reginaldo Marques Aguiar, diretor da Confederação Nacional das Associações dos Servidores do Incra, a decisão de permanecer na sala de reuniões foi consequência da frustração. "Estamos sendo muito maltratados. Há funcionários com 35 anos de casa ganhando R$ 2,5 mil por mês. Além disso, não reivindicamos só salário. Queremos que o orçamento do Incra passe de R$ 4 bilhões para R$ 6 bilhões. No ano passado, em vez de aumentar, o governo cortou 25% da verba. Por causa disso, não foi possível cumprir as metas do programa de reforma agrária", reclamou. Para Aguiar, "a reunião com Mendonça foi péssima". O sindicalista garantiu que, em 28 das 30 superintendências do Incra, os funcionários estão em greve, com adesão entre 70% a 95%.
O clima de tensão já havia se instalado no Ministério do Planejamento desde o início do dia, tamanha era a expectativa dos grevistas pela retomada das negociações com o governo. O primeiro encontro foi com os líderes da Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Federal (Condsef). A pauta girou em torno dos interesses de cerca de 120 mil servidores ativos de 18 setores, o chamado carreirão. Eles exigem reajuste médio de 30% para os cargos de níveis superior, intermediário e auxiliar. Sem meias palavras, Mendonça avisou que não será possível atender as reivindicações. Ele ressaltou ainda que, caso todos os pedidos dos sindicatos de servidores do Executivo fossem aceitos, o impacto nas contas públicas seria de R$ 60 bilhões anuais. Quando consideradas as reivindicações dos Três Poderes, o custo para a União atingiria R$ 92 bilhões.
O objetivo da Condsef é igualar os salários dos servidores de nível superior das carreiras da Previdência, da Saúde e do Trabalho (CPST) e do Plano Geral de Cargos do Poder Executivo (PGPE) aos de técnicos do Executivo beneficiados pela Lei nº 12.277. A norma criou uma tabela salarial diferenciada para 6.158 servidores - entre ativos e aposentados das áreas de estatística, economia, arquitetura, biologia e engenharia, que têm vencimentos entre R$ 5.460 e R$ 10.209,50.

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