segunda-feira, 21 de maio de 2012

Cacauicultores opõem-se ao Porto Sul na Bahia

O Porto Sul está gerando opiniões diversas entre os produtores do Sul da Bahia, que acreditam que a implantação do projeto na região foge da vocação regional que é o cacau, o chocolate e o turismo rural que contribui para proporcionar bem estar às famílias envolvidas com a atividade, fazendo com que os mesmos passem a sentir orgulho de sua origem e se conscientizem da preservação de seu patrimônio.
Cacauicultora tradicional, filha de cacauicultores, Eulina Lavigne, acredita que a cultura do cacau pode ser bastante prejudicada com a concretização do Porto Sul: “Nós cacauicultores estamos sendo desapropriados e a indenização está sendo abatida das nossas dívidas. O que é isto? É uma falta de respeito. Nós estamos em uma situação bastante delicada desde que a Vassoura de Bruxa foi instalada em nossa região de forma criminosa”, afirma Lavigne.

A região sofre com uma crise que se instalou há mais de duas décadas, com a chegada da vassoura de bruxa, que dizimou cerca de 70% da produtividade na região, e fez com que famílias perdessem todo o patrimônio e/ou contraíssem dívidas, que chega perto de R$ 800 milhões.
O Porto Sul será o ponto final da Ferrovia de Integração Oeste-Leste (FIOL), obra do Governo Federal que ligará a cidade de Figuerópolis, no Tocantins, a Ilhéus, na Bahia. Com um investimento de R$ 2,6 bilhões, o empreendimento afirma que trará uma média de 2,5 mil empregos diretos e indiretos.
Segundo o site oficial do empreendimento, o Porto Público está previsto para operar com a capacidade nominal de exportação de 75 milhões de toneladas por ano e de importação de 5 milhões de toneladas. Incluída nesta capacidade está a previsão de movimentação de produtos como minério de ferro, clínquer soja, etanol e fertilizantes, além de outros granéis sólidos.
Mas, a visão dos produtores é que a construção trará grandes prejuízos ambientais. “Tenho muita curiosidade em saber como podem conviver um porto onde o minério será depositado em um pátio, onde o vento leva e trás “a céu aberto”, como isto não contaminará a nossa terra, o nosso mar e o nosso ar?”, são as dúvidas de Lavigne, que acredita ainda que o “projeto desrespeita o meio ambiente e coloca em risco um dos maiores biomas da humanidade”.
O Projeto Porto Sul terá mais uma rodada de audiências públicas, de 28 de maio a 2 de junho, com o objetivo de discutir seus impactos ambientais. O debate ocorrerá em seis cidades abrangidas pela APA da Lagoa Encantada/Rio Almada, que são Itacaré, Uruçuca, Itabuna, Itajuipe, Coaraci e Barro Preto.
“Eu como cacauicultora e que faço parte de uma região que possui mais de 300 anos de existência não posso achar que este projeto trará desenvolvimento para a região. Desenvolvimento para mim é olhar para a vocação da região e acreditar nisto. É manter as pessoas empregadas naquilo que sabem fazer, que é cuidar da terra com decência e incluir boas escolas”, conclui Eulina Lavigne.

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